sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Pequeno diário escrito em dois dias (e em 16 rodas – risos)

A janela e o violão

Quando o motorista anunciou o trajeto: São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Maranhão, Belém, tomamos pé de quão longa seria a viagem. Ivone, Liliane e eu partimos. Com previsão de três dias viajaríamos junto ao Movimento de Moradia, outros parceiros do movimento e nossos quatro bonecos na bagagem. A viagem na verdade, salvo os pés inchados e posições difíceis de achar para um cochilo, foi tão boa e tão mais rápida que imaginávamos.

Foram muitas as águas deste fórum.



Águas vigorosas. Ora fortes e alegres. Ora profundas e tristes. Mas sempre vigorosas. Sabia já que este era o mês das águas. O rio Guajará e o porto do cais. O rio Guamá torneando as curvas das universidades, Federal e Rural. Os sapos cantarolando a noite entre os brejos. Os muiraquitãs. Rios terra. E chuvas, chuvas diárias e fortes, rápidas, longas. Intensas.

Mas nem só dessas águas fez-se este Fórum Social Mundial.
Sua diversidade de emoções, sim, ultrapassa as diversidades lingüísticas.


Marcha pela paz – Abertura do FSM

Muitos sons.

A energia das
meninas de Emaús
, que saltitam vigorosamente em gritos decorados e coletivos. Fortes presenças. Também confesso que me surpreendi de maneira engraçada ao ver, por exemplo, de um lado os batuques fortes e sensuais do tambor de criola e ali rente ao lado o rapaz sentada de pernas cruzadas, olhos fechados a meditar, como se estivesse no topo e uma montanha. Silêncios e barulhos.

Muitas cores.

A bandeira GLBTI mesmo traz muitas delas.















Assim como a linda bandeira Aymara.

Assim como sementes e pinturas dos indígenas da Amazônia.

Cores...

No meio destes gritos e cores fica Belém como a terra das cachoeiras urbanas (parodeando quem está na

bera). Sim, pois suas chuvas intensas molharam essa marcha e fecundaram o inicio deste FSM.

Eu, ainda querendo sentir tudo isso, tudo que acontecia. De que fluxos se constituíam aquele gigantesco encontro? Era apenas o início.

A noite, Lavarello, Liliane, Ivone e eu nos encontramos com nossos
companheiros de duas rodas: Cadu, Roberta, Rodrigo e Daniel e suas magrelas.


Eles viajaram dois dias para chegar ao FSM e aqui estão...
28 de janeiro - São quatro os bonecos e cada um traz uma história pra contar.

Andar com os bonecos nos ombros foi de fato uma maratona.


O calor intenso parecia duplicar a força para pegar o ônibus e caminhar nas extensas ruas das duas universidades (UFPA e UFRA - apelidadas de Federal e Rural). Assim como a Maria, da lata d’água na cabeça saímos a conhecer (parte do) espaço, intervindo com os bonecos pelo próprio caminhar. As reações diferiam a cada momento, dependendo do espaço e passantes do lugar.


“Uma vez perguntaram ao Gandhi o que ele achava da democracia ocidental e ele respondeu: Seria uma boa idéia. Eu acho que se perguntássemos a muita gente hoje sobre a justiça a reposta poderia ser a mesma. Porque muito mais da metade da população do mundo não é sujeito dos direitos humanos, é o objeto. É o objeto dos nossos discursos, das nossas organizações, dos nossos movimentos e eles sim são sujeitos e querem ser sujeitos de direito. É dessa realidade que temos que partir”. (fala de Boaventura, no início da mesa)


Boaventura de Sousa Santos e Sérgio Leitão


Paramos na sala que teria a mesa sobre a
Justiciabilid
ade dos Direitos Humanos
principalmente pelo sotaque português de Boaventura. Lá encontramos também Sergio Leitão (Greenpeace), Flávia (RENAP- Rede Nacional de Advogados Populares) e Andre (Terra de Direitos). Chegamos e além dos bancos intervimos a partir dos bonecos no espaço do auditório. Sobre a necessidade de se reinventar o direito.



http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15542&editoria_id=5 - Artigo da Carta Maior.
http://tresnoforum.wordpress.com/2009/01/29/a-quem-serve-o-direito-no-brasil/#comment-36 - Blog das meninas que encontramos nesta atividade e estavam realizando uma cobertura experimental e alternativa do FSM.

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